As toadas são cantos tradicionais, composições vocais que fazem parte do repertório do maracatu. Elas são cantadas pelos integrantes do Baque Teiuguaçu em estrutura responsorial. Elas desempenham um papel importante na preservação e transmissão da cultura e história associadas a essa manifestação cultural, contribuindo para a identidade e vitalidade dessa tradição ancestral no Brasil.
As nossas toadas são caracterizadas por suas melodias marcantes e letras que geralmente abordam temas relacionados à natureza endêmica da região do Sudoeste da Bahia (Sertão da Ressaca), cultura indígena - mais notadamente dos Mongoyó (ou Kamakã). Ymboré e Pataxó - cultura afro-brasileira e cultura catingueira. As toadas são uma parte essencial da expressão musical do maracatu, complementando a parte rítmica dos tambores e contribuindo para a atmosfera festiva e emocional da manifestação.
Nosso grande respeito às muitas nações pernambucanas de maracatu que tentam manter viva a tradição musical e folclórica do maracatu. No entanto, nosso objetivo não é imitar os grandes coletivos responsáveis pela preservação dessa cultura autêntica, mas sim explorar as possibilidades sonoras desse ritmo, aliando-as às brincadeiras e folguedos populares catingueiros ou míticos — sejam eles da nossa região ou inventados.
A chuva cai alegria
O tambor bate no coração
Com força e com harmonia
Segura o repique no mar do trovão
O dia de dançar
Encontro na mata
numa manhã de esplendor
cutia e porco do mato 1
e tudo que é fera que já acordou
Rompeu na aurora
o dia de dançar
o caldeirão vai ferver
até a hora da húerá 2
1. Cutia e porco do mato fazem parte da fauna endêmica da nossa região do Sertão da Ressaca.
2. “Húerá”, na língua mongoyó significa “noite”.
Nichuá
Nichuá, Nichuá! 1
Nichuá, Nichuá!
Bate na alfaia
Repica gonguê
Responde ganzá!
Bate na alfaia
Repica gonguê
Responde ganzá!
1. “Nichuá” na língua mongoyó significa “braço”. O braço que bate a alfaia, que repica o gonguê...
Foram me chamar
Foram me chamar
Foram me chamar
O tambor de couro
Domingo vou ensinar
O tambor de couro
Domingo vou ensinar
Junto com o teyu grandão
Ymboré, Mongoyó 1
Na serra dessa nação
Dominando essas pedras
Junto com o Teyu grandão
1. Os índios Mongoyó (ou Kamakã), Ymboré e Pataxó pertenciam ao mesmo tronco: Macro-Jê, habitantes do Sertão da Ressaca.
Dendê
Ô schakréré 1, a minha voz
A minha vez, a vez de nós
No meu bombo tem dendê
Trovão rasga Orun aiyê 2
Mancha de dendê não sai (mancha de dendê)
1. Aiyé é uma palavra de origem yorùbá que designa o mundo físico, a terra, o tempo de vida, em oposição a òrun, dimensão da existência genérica e do mundo espiritual.
2. Um dos nomes antigos da alfaia.
O sol e a lua
Ymboré falou do sol,
E da lua kamakã 1
O sol é o meu mestre
E a lua guardiã
Se quiser repete
eu vou até amanhã
Se quiser repete
eu vou até amanhã
Batuqueiro gavião
Segura o maracatu
Meu baque é na pisada
Do Teiuguaçu 2
1. Kamakã é o grupo indígena Mongoyó.
2. Teiuguaçu é a união do radical guaçu (grande) com Teiú (te'yu), um dos nomes do maior lagarto das américas, que vive aqui no Sertão da Ressaca.
Batuqueiro
Batuqueiro que tem sangue na veia
Não pode escutar um gonguê
Sua perna estremece
Onde o batuqueiro cresce
Na alegria de viver
Seja de noite ou de dia
Não importa o lugar
Quando treme a alfaia
Dá vontade de dançar
Dança de cocar
É dança de cocar
pena, conta e vela
todas as cores há
no cortejo da viela
A vaca vem arfando
seguindo o rastro andando
que deixou o teiú
zabumba1 amarela
treme a costela
ao som do maracatu
1. Um dos nomes antigos da alfaia.
Moapã
Viva a chama do amanhecer
vem pra mim todo o asé 1
o sol inflama para nascer
moapã 2, ganzá e agbê 3
1. Axé, na palavra iorubá "asé", é a energia vital de todos os seres vivos e que impulsiona a vida e o universo.
2. " moapã " na língua Mongoyo, significa tocar, bater (obj. que ressôe).
3. Ganzá e Agbê são instrumentos utilizados pelo Teiuguaçu no batuque.
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Moapã
Moapã, na língua Mongoyo, significa tocar, bater em um objeto que ressôe, produzir som através de uma batida. Mas Moapã é mais que bater ou ressoar — é o pulsar da vida, o coração ritmando nas mãos quando tocamos maracatu.
O som que reverbera. Somos parte de uma continuidade, onde cada baque carrega história, resistência e renovação.
A vez de nós
A mão negra segura, dentro da terra vermelha, as nossas raízes. Agora é a nossa vez, o nosso realce, o nosso sotaque, a nossa voz.